quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Muros, pontes e (não)afins.


Eu quero te escrever uma carta, mas não sei nem ao menos como começar. Escrevo: “Querido, Fulano!”? Ou melhor: “Olá, Fulano!”? (Paro um pouco. Penso que tanto faz, porque na realidade, você nunca vai ler essa carta mesmo.) Opto por: “Fulano,”. Assim. Curto, direto e objetivo. Sem rodeios. Mas cá pra nós, não é isso que meu coração tem feito comigo. Ele tem me rodeado, rodeado, sai de mim, dá voltas, me cerca na esquina, me assalta na padaria, me incomoda no silêncio, volta aqui pra dentro e acaba lá na garganta, dando um nó apertado. E garganta lá é lugar de coração? Digo pra ele: “Volta, Coração! Volta para o seu lugar!”. Mas ele não me obedece. Por isso decidi escrever uma carta para você. Não por mim, mas por ele. Pelo meu coração. É que tenho a sensação que você pode me ajudar a fazer isso. Fique tranqüilo, não é uma súplica para você voltar pra mim. Nunca faria isso, nem mesmo pelo meu coração teimoso. É uma ajuda. Um custo-benefício requerido sobre os sorrisos que dividimos. Sorrisos esses que fizeram diferença pra mim. Amei a pessoa que fui ao seu lado. Mas se eu continuar sendo assim, só vou acabar me machucando mais. E independente de todos os sorrisos, eu estou aqui agora, e você aí. E tudo aquilo ficou pra trás. Virou lembranças. Lembranças do que foi a gente, lembranças do seu cheiro, do seu beijo, de você. E sei que é melhor tudo ficar na lembrança. Não vamos me iludir mais. Sabe quando eu te ligo? Atenda! Não é pra te convidar pra sair. Eu já decidi que não vou mais transar com você. Não, não vou. E só pra auto-reafirmar repito: Eu já decidi que não vou mais... Não consigo me auto-reafirmar. É por isso que queria ouvir sua voz. Pra te dizer que mesmo eu construindo esse muro ao redor do meu coração, eu tenho sensata consideração por ti e que o muro é só pra me salvar. Não posso construir uma ponte. Sei que não. Ela despencaria em cima de mim mesma e eu acabaria me perdendo. Acabaria sem rumo novamente. E não teria ninguém pra me ajudar a me encontrar. Pois é isso que você faz. Atravessa a ponte, me faz reviver momentos bons, me faz bem. E vai embora, deixa esse vazio. Resolvi cortar esse seu caminho. Resolvi me proteger de você. Nós dois sabemos o efeito que você tem sobre mim. Portanto, não tente quebrar esse muro, não tente pulá-lo, não tente mais nada. Pois aquela menina que estava ao seu lado há algum tempo está aprisionada e acorrentada a sete chaves protegida por esse muro. E farei de tudo pra ela não se libertar novamente. Pelo menos não ser liberta por você. Essa menina presa chora, implora por você, mesmo sabendo a dor que isso vai causar a ela, as correntes não a deixam ir atrás de você. E com o tempo veremos que foi melhor assim. Ela vai crescer, vai aprender a não confiar em sentimentos, vai ter aprendido como é ser abandonada e vai se tornar uma menina forte, mas fria. E não, não haverá mais nada de você dentro dela. E mesmo aquelas lembranças que eram boas, estarão distantes, ofuscadas por algo mais forte do que tudo o que você pode fazer. Sabe que não vejo a hora mesmo, é de poder derrubar o muro. Te olhar “olho no olho” e enxergar apenas você. Sem misticismo, fantasias, sem lupa. Enxergando apenas o que você é de verdade, e não esse amontoado de qualidades inexistentes que eu fantasiei só para te tornar mais perfeitinho pra mim. Estou declaradamente desistindo de você. Diria o poeta que é por amor-próprio. Que amor? Não me venha falar de amor. Diga sensatez, realismo, pé no chão. Menos amor. Não cabe essa palavra na nossa conversa em nenhum tempo, modo ou pessoa. Sem essa de amor. Sem essa de falar de sentimentos que você não possui. Não tem como querer argumentar sobre algo que você não conhece, tampouco sabe que existe. Sim, eu acredito que você até gostou de mim. Mas não passou de um simples e vazio gostar. Não rolou aquele desejo, desejo esse que sempre me consumiu, e que hoje dói em minhas veias. Mas que estou aprendendo a eliminar de mim, como se fosse um vírus. Vou combatendo aos poucos, e em breve, estarei imune ao seu cheiro, seu sorriso, seu abraço, estarei imune a você. E será aí, nesse ponto, que você verá o que fez. Mas também vai perceber que não dá pra voltar atrás. Afinal de contas, uma vez imune, imune pra sempre. E no fim, eu vejo que não há outro jeito. Com muros, pontes, estradas ou abismos, terei apenas meus pés para me guiar. A jornada começou e eu quero mais é colecionar pontes e derrubar muros. Você escolheu o muro e eu te desejo é que tenha muitas pontes em seu caminho. Não adianta agora olhar pra trás, ou tentar voltar. Você não pode transpor esse muro, não pode mudar mais o que sinto. Aquele caminho que traçamos juntos está totalmente inacessível, cada um terá seu caminho e o meu muro barrará qualquer tentativa de aproximação sua. Siga seu caminho, deixe que eu siga o meu. Me deixe ser feliz (sim, eu serei feliz sem você). E um dia, quem sabe, o muro não seja apenas uma cerca. Mas isso não significa que poderemos ficar juntos de novo, significa apenas que você não me machuca mais e que te ver, não me faz sentir mais nada.

(Texto escrito por mim e por Priscilla Fonseca)